"They departed, the gods, on the day of the strange tide. All morning under a milky sky the waters in the bay had swelled and swelled, rising to unheard-of heights, the small waves creeping over parched sand that for years had known no wetting save for rain and lapping the very bases of the dunes. The rusted hulk of the freighter that had run aground at the far end of the bay longer ago than any of us could remember must have thought it was being granted a relaunch. I would not swim again, after that day. The birds mewled and swooped, unnerved, it seemed, by the spectacle of that vast bowl of water bulging like a blister, lead-blue and malignantly agleam. They looked unnaturally white, that day, those birds. The waves were depositing a fringe of soiled yellow foam along the waterline. No sail marred the high horizon. I would not swim, no, not ever again.
Someone has just walked over my grave. Someone."
John Banville, The Sea (Winner of the Man Booker Prize) - Picador
domingo, dezembro 18, 2005
quarta-feira, novembro 30, 2005
Fernando António Nogueira Pessoa
O prazer é para os cães,
o bem-estar material
é para os escravos...
Fernando Pessoa
Não só quem nos odeia
ou nos inveja
Nos limita e oprime;
quem nos ama
Não menos nos limita.
Ricardo Reis
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente...
Álvaro de Campos
Há metafísica bastante
em não pensar em nada.
Alberto Caeiro
Traseunte de tudo
- até da minha própria alma-,
não pertenço a nada.
Bernardo Soares
o bem-estar material
é para os escravos...
Fernando Pessoa
Não só quem nos odeia
ou nos inveja
Nos limita e oprime;
quem nos ama
Não menos nos limita.
Ricardo Reis
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente...
Álvaro de Campos
Há metafísica bastante
em não pensar em nada.
Alberto Caeiro
Traseunte de tudo
- até da minha própria alma-,
não pertenço a nada.
Bernardo Soares
sexta-feira, novembro 18, 2005
quarta-feira, novembro 16, 2005
Democracy
There´s no escape.
The big pricks are out.
They'll fuck everything in sight.
Watch your back.
Harold Pinter, 2003
The big pricks are out.
They'll fuck everything in sight.
Watch your back.
Harold Pinter, 2003
segunda-feira, novembro 14, 2005
quarta-feira, novembro 09, 2005
segunda-feira, novembro 07, 2005
quinta-feira, novembro 03, 2005
terça-feira, novembro 01, 2005
Deste Outono
Novembro, som absoluto,
com as suas sílabas suaves,
as vogais pairando na aragem,
e na luz lenta dourada outros
sons soltos consoantes.
Fiama Hasse Pais Bandrão, As Fábulas - Quasi
com as suas sílabas suaves,
as vogais pairando na aragem,
e na luz lenta dourada outros
sons soltos consoantes.
Fiama Hasse Pais Bandrão, As Fábulas - Quasi
domingo, outubro 30, 2005
Do Amor IV
Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da Natureza pede
o amor em dois olhares.
Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas - Quasi
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da Natureza pede
o amor em dois olhares.
Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas - Quasi
quinta-feira, outubro 27, 2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
Sometimes with one I love
Sometimes with one I love I fill myself with rage for fear I
effuse unreturn'd love,
But now I think there is no unreturn'd love, the pay is
certain one way or another,
(I loved a certain person ardently and my love was not
return'd,
Yet out of that I have written these songs.)
Walt Whitman
effuse unreturn'd love,
But now I think there is no unreturn'd love, the pay is
certain one way or another,
(I loved a certain person ardently and my love was not
return'd,
Yet out of that I have written these songs.)
Walt Whitman
terça-feira, outubro 25, 2005
segunda-feira, outubro 24, 2005
terça-feira, outubro 11, 2005
terça-feira, outubro 04, 2005
segunda-feira, outubro 03, 2005
sábado, outubro 01, 2005
45
Dá-me algo mais que silêncio ou doçura
Algo que tenhas e não saibas
Não quero dádivas raras
Dá-me uma pedra
Não fiques imóvel fitando-me
como se quisesses dizer
que há muitas coisas mudas
ocultas no que se diz
Dá-me algo lento e fino
como uma faca nas costas
E se nada tens para dar-me
dá-me tudo o que te falta!
Herberto Helder
Algo que tenhas e não saibas
Não quero dádivas raras
Dá-me uma pedra
Não fiques imóvel fitando-me
como se quisesses dizer
que há muitas coisas mudas
ocultas no que se diz
Dá-me algo lento e fino
como uma faca nas costas
E se nada tens para dar-me
dá-me tudo o que te falta!
Herberto Helder
sábado, setembro 24, 2005
Rubaiyat - Odes ao Vinho (41)
Esquece que ontem devias ser recompensado e não o foste
Sê feliz. Não lamentes nada. Não te prendas a nada.
O que deve acontecer-te está escrito no Livro
Que o vento da Eternidade folheia ao acaso.
Omar Khayyam Irão, 1048
Sê feliz. Não lamentes nada. Não te prendas a nada.
O que deve acontecer-te está escrito no Livro
Que o vento da Eternidade folheia ao acaso.
Omar Khayyam Irão, 1048
Rubaiyat - Odes ao Vinho (20)
Os nossos dias fogem tão rápidos como água do rio
Ou vento do deserto
Entretanto, dois dias me deixam indiferente:
O que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam Irão, 1048
Ou vento do deserto
Entretanto, dois dias me deixam indiferente:
O que passou ontem e o que virá amanhã.
Omar Khayyam Irão, 1048
Rubaiyat - Odes ao Vinho (31)
Ninguém pode compreender o que é misterioso.
Ninguém é capaz de ver o que ocultam as aparências
As nossas moradas são provisórias, excepto a última: a terra.
Bebe vinho! Basta de palavras supérfluas.
Omar Khayyam Irão, 1048
Ninguém é capaz de ver o que ocultam as aparências
As nossas moradas são provisórias, excepto a última: a terra.
Bebe vinho! Basta de palavras supérfluas.
Omar Khayyam Irão, 1048
quinta-feira, setembro 22, 2005
Cantiga de Abril
Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
"Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade"
Jorge de Sena
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinqüenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raíz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram
sem ver o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Jorge de Sena 1974
"Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade"
Jorge de Sena
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinqüenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raíz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram
sem ver o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Jorge de Sena 1974
quarta-feira, setembro 14, 2005
terça-feira, setembro 13, 2005
quinta-feira, setembro 08, 2005
sexta-feira, agosto 26, 2005
Formas do medo
Formas do medo:
falar
fingir
calar
correr
ficar quieto
O coração é um misterioso recinto
Ana Hatherly - Fibrilações
falar
fingir
calar
correr
ficar quieto
O coração é um misterioso recinto
Ana Hatherly - Fibrilações
sábado, agosto 20, 2005
segunda-feira, agosto 15, 2005
O Passarinho de Papel
Só, na sua pequeníssima jaula,
dormitando,
o Passarinho de Papel.
[Nicolás Guillén]
dormitando,
o Passarinho de Papel.
[Nicolás Guillén]
quarta-feira, julho 20, 2005
Poetas Malditos
Malditos poetas, que disseram tudo
e tudo tão bem dito!
Malditos poetas, que me deixam mudo,
sem um ai, uma súplica ou um grito!
Raios os partam, cada qual maldito!
Malditos, que roçaram no seu voo,
com asas de veludo
o infinito!
Malditos poetas: Eu os abençoo...
[Adolfo Simões Muller]
e tudo tão bem dito!
Malditos poetas, que me deixam mudo,
sem um ai, uma súplica ou um grito!
Raios os partam, cada qual maldito!
Malditos, que roçaram no seu voo,
com asas de veludo
o infinito!
Malditos poetas: Eu os abençoo...
[Adolfo Simões Muller]
quinta-feira, julho 07, 2005
Londres 07-07-2005
Musee des Beaux Arts by W.H. Auden
About suffering they were never wrong,
The Old Masters; how well, they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
had somewhere to get to and sailed calmly on.
About suffering they were never wrong,
The Old Masters; how well, they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
had somewhere to get to and sailed calmly on.
quarta-feira, junho 22, 2005
The more loving one
Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.
How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.
Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.
Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.
[W. H. Auden]
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.
How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.
Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.
Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.
[W. H. Auden]
segunda-feira, junho 13, 2005
Levantado do Chão - José Saramago
(O primeiro parágrafo)
"O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porque a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou o seu último fim. Não é tal o caso do trigo, que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobreiro, que vivissímo, embora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos."
(...)
"O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porque a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou o seu último fim. Não é tal o caso do trigo, que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobreiro, que vivissímo, embora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos."
(...)
Eugénio de Andrade (Póvoa da Atalaia,1923-Porto,2005)
Sem ti
E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.
[Eugénio de Andrade]
E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.
[Eugénio de Andrade]
domingo, junho 12, 2005
O Comum da Terra (Vasco Gonçalves)
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
[Eugénio de Andrade]
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
[Eugénio de Andrade]
sábado, junho 11, 2005
Exercício Espiritual
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
[Mário Cesariny]
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
[Mário Cesariny]
quinta-feira, junho 09, 2005
Lua
Mamífero metálico. Nocturno.
Vê-se-lhe
o rosto comido por um acne.
Sputniks e sonetos.
[Nicolás Guillén]
Vê-se-lhe
o rosto comido por um acne.
Sputniks e sonetos.
[Nicolás Guillén]
terça-feira, junho 07, 2005
O teu lugar
só tu sabes onde é.
Aos adivinhos, aos intelectuais do comportamento, aos moralistas virgens, aos amigos cheios de intenções oferece o teu Não redondo e maiuscúlo.
Aos adivinhos, aos intelectuais do comportamento, aos moralistas virgens, aos amigos cheios de intenções oferece o teu Não redondo e maiuscúlo.
A Solidão
A noite abre os seus ângulo de lua
E em todas as paredes te procuro
A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro
A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro
Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes azuis.
Eu te procuro.
[Sophia de Mello Breyner Andersen]
E em todas as paredes te procuro
A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro
A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro
Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes azuis.
Eu te procuro.
[Sophia de Mello Breyner Andersen]
domingo, junho 05, 2005
preOcupações
Teve o pressentimento que o buraco orçamental tinha vida própria.
E que resistiria com toda a inércia política e económica ao seu aniquilamento.
Ficou muito preocupado!
E que resistiria com toda a inércia política e económica ao seu aniquilamento.
Ficou muito preocupado!
Cançãozinha para a Maria Helena, em Oxford
Abril, abril!,
quando o outono vier
que lhe diremos
da chuva que canta
e canta na pedra?
Que lhe diremos,
abril, abril,
de luz tão lúcida
que se faz rosa
antes de ser música?
[Eugénio de Andrade]
quando o outono vier
que lhe diremos
da chuva que canta
e canta na pedra?
Que lhe diremos,
abril, abril,
de luz tão lúcida
que se faz rosa
antes de ser música?
[Eugénio de Andrade]
sábado, junho 04, 2005
sexta-feira, junho 03, 2005
Guitarra
Foram caçar guitarras,
em noite de lua cheia.
E trouxeram esta,
pálida, fina, esbelta,
olhos de inesgotável mulata,
cintura de madeira aberta.
É jovem, mal voa.
Mas já canta
quando ouve noutras jaulas
entoar sons e cantigas.
Tem na jaula esta inscrição:
"Cuidado: sonha".
[Nicolás Guillén]
em noite de lua cheia.
E trouxeram esta,
pálida, fina, esbelta,
olhos de inesgotável mulata,
cintura de madeira aberta.
É jovem, mal voa.
Mas já canta
quando ouve noutras jaulas
entoar sons e cantigas.
Tem na jaula esta inscrição:
"Cuidado: sonha".
[Nicolás Guillén]
Poema
Tu estás em mim como eu estive no berço
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar.
[Mário Cesariny]
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar.
[Mário Cesariny]
Poema de Amor
1. Tu és a minha aranha favorita
2. Não sabem quanto eu gosto
de me sentir em palpos de aranha.
[Jorge de Sousa Braga]
2. Não sabem quanto eu gosto
de me sentir em palpos de aranha.
[Jorge de Sousa Braga]
domingo, maio 29, 2005
O Sorriso
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz lá dentro,
apetecia entrar nele, tirar a roupa,
ficar nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
[Eugénio de Andrade]
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz lá dentro,
apetecia entrar nele, tirar a roupa,
ficar nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
[Eugénio de Andrade]
domingo, maio 22, 2005
sábado, maio 21, 2005
O quotidiano "não"
Estamos todos bem servidos
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.
Pão é claro que temos
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno «não»
não figura nesta prosa
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,
recebe modestamente
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão
a domicílio como
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não,
que nunca viu no tal saco
o tal «não».
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:
- Para dizer a verdade,
eu também não...
Mas estava confiante
na sua imaginação
(ou na minha...) e que sentia
como eu a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção
de quem hoje nos fornece
o quotidiano «não»,
por todos os meios, desde
a fingida distracção,
até ao entre-parêntesis
de qualquer reclusão...
[Alexandre O´Neill]
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.
Pão é claro que temos
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno «não»
não figura nesta prosa
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,
recebe modestamente
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão
a domicílio como
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não,
que nunca viu no tal saco
o tal «não».
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:
- Para dizer a verdade,
eu também não...
Mas estava confiante
na sua imaginação
(ou na minha...) e que sentia
como eu a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção
de quem hoje nos fornece
o quotidiano «não»,
por todos os meios, desde
a fingida distracção,
até ao entre-parêntesis
de qualquer reclusão...
[Alexandre O´Neill]
O mundo é grande
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
[Carlos Drummond de Andrade]
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
[Carlos Drummond de Andrade]
domingo, maio 15, 2005
sábado, maio 14, 2005
Subscrever:
Mensagens (Atom)