quarta-feira, junho 22, 2005

The more loving one

Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.


How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.


Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.


Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.


[W. H. Auden]

segunda-feira, junho 13, 2005

Levantado do Chão - José Saramago

(O primeiro parágrafo)

"O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porque a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou o seu último fim. Não é tal o caso do trigo, que ainda com alguma vida é cortado. Nem do sobreiro, que vivissímo, embora por sua gravidade o não pareça, se lhe arranca a pele. Aos gritos."
(...)

Eugénio de Andrade (Póvoa da Atalaia,1923-Porto,2005)

Sem ti

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

[Eugénio de Andrade]

domingo, junho 12, 2005

O Comum da Terra (Vasco Gonçalves)

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

[Eugénio de Andrade]

Piodao

Piodao

sábado, junho 11, 2005

Cesto de gávea


Coimbra

Exercício Espiritual

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

[Mário Cesariny]

quinta-feira, junho 09, 2005

Lua

Mamífero metálico. Nocturno.

Vê-se-lhe
o rosto comido por um acne.

Sputniks e sonetos.

[Nicolás Guillén]

terça-feira, junho 07, 2005

O teu lugar

só tu sabes onde é.
Aos adivinhos, aos intelectuais do comportamento, aos moralistas virgens, aos amigos cheios de intenções oferece o teu Não redondo e maiuscúlo.

A Solidão

A noite abre os seus ângulo de lua
E em todas as paredes te procuro

A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro

A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro

Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes azuis.

Eu te procuro.

[Sophia de Mello Breyner Andersen]

domingo, junho 05, 2005

preOcupações

Teve o pressentimento que o buraco orçamental tinha vida própria.
E que resistiria com toda a inércia política e económica ao seu aniquilamento.
Ficou muito preocupado!

Cançãozinha para a Maria Helena, em Oxford

Abril, abril!,
quando o outono vier
que lhe diremos
da chuva que canta
e canta na pedra?
Que lhe diremos,
abril, abril,
de luz tão lúcida
que se faz rosa
antes de ser música?

[Eugénio de Andrade]

sábado, junho 04, 2005

Ama como a estrada começa

[Mário Cesariny]
queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma

[Mário Cesariny]

saturday morning at the Mall


Bairro Norton de Matos, Coimbra

sexta-feira, junho 03, 2005

Guitarra

Foram caçar guitarras,
em noite de lua cheia.
E trouxeram esta,
pálida, fina, esbelta,
olhos de inesgotável mulata,
cintura de madeira aberta.
É jovem, mal voa.
Mas já canta
quando ouve noutras jaulas
entoar sons e cantigas.
Tem na jaula esta inscrição:
"Cuidado: sonha".

[Nicolás Guillén]

Poema

Tu estás em mim como eu estive no berço
como a árvore sob a sua crosta
como o navio no fundo do mar.

[Mário Cesariny]

insinuante o outro lado


Coimbra

Poema de Amor

1. Tu és a minha aranha favorita
2. Não sabem quanto eu gosto
de me sentir em palpos de aranha.

[Jorge de Sousa Braga]